sábado, 25 de outubro de 2014

O que é preciso para ser um Mestre?

Os mestres respondem. São os verdadeiros líderes da capoeira, ouvidos, acatados e naturalmente seguidos por seus discípulos. Aqui eles emitem apenas alguns conselhos, porque todos têm muito mais a dizer e, é claro, também faltaram depoimentos de mestres não menos respeitados no mundo da capoeiragem.
luiz renato
Mestre Luiz Renato Vieira, Brasília – DF Historiador
“O que é necessário para ser mestre de capoeira? Essa é uma pergunta difícil de responder. Afinal, a capoeira é uma arte plural, multifacetada, que se expressa por diversos meios e sentidos. Assim, para ser um mestre de capoeira são exigidos conhecimentos e habilidades em diversas áreas da atuação e do conhecimento humano, como o jogo-luta da capoeiragem, a música, algum conhecimento histórico, saberes sobre as tradições e muito mais… A resposta envolve muitos temas, e precisa de alguma reflexão.
Entretanto, não há dúvida de que há um fio condutor. E, com a nossa vivência na capoeira, podemos perceber que, assim como a capoeira é rica em múltiplas expressões, nem todos dominam todas essas formas de igual maneira. Mas há, sim, algo que nos permite identificar um Mestre: a experiência, a segurança ao orientar um aluno e a consistência de suas afirmações e atitudes. Ninguém está mais longe de ser um mestre do que aquele que cultiva a arrogância. Por algum tempo, nós mestres na faixa dos cinquenta anos de idade (nós que iniciamos a prática da capoeira na década de setenta do século passado), chegamos a associar a condição de mestre ao conhecimento formal, e até mesmo acadêmico. Então, para ser mestre, pensávamos que era necessário conhecer as técnicas de ensino da luta, os fundamentos das várias ciências envolvidas no estudo da capoeiragem. Engano monumental esse, de associar a mestria ao formato do conhecimento que é usualmente mais reconhecido pelas instituições. Os anos vão passando e vamos, cada vez mais, reconhecendo a importância dos saberes tradicionais e da atitude de humildade e respeito que devemos preservar diante dos inúmeros desafios que a vida nos impõe. O mundo da capoeira, e a própria roda, está repleto dessas situações, onde o que se destaca é a atitude firme e segura, e não o mero desfiar de um conhecimento que, naquele momento, pode ser apenas a expressão da vaidade humana, ou de algum sentimento ainda menor.
Um verdadeiro mestre de capoeira se faz na vivência real, ao longo dos anos, nas ricas e inúmeras situações em que a nossa capoeira nos coloca na vida cotidiana. Seja na rua, nos espaços institucionais de ensino ou nas academias. Essa experiência e o enfrentamento das adversidades — e não aquele contato fortuito, eventual, com a cultura da capoeiragem, mediatizado pela hierarquia e por símbolos como cordas ou títulos — vão gerando acúmulo e produzindo respeito e admiração. Aquele que detém esse respeito, se o recebe com humildade, pode se dizer digno da condição de Mestre de Capoeira.” Depoimentos exclusivos de mestres que já se foram, concedidos à Revista Capoeira em maio de 1998 e em dezembro de 1999. A eles e a outros não citados, nossa homenagem sincera. ARTUR EMIDIOMestre Artur Emídio
“Tem que ter conhecimento, formação e cultura geral, conhecer de tudo para ser um mestre de capoeira. Não é qualquer um que pode ser um mestre de capoeira. Como se pode ensinar capoeira para crianças e excepcionais sem ser alfabetizado e sem ter preparo? Como se pode ser mestre de capoeira com poucos anos de treinamento? Em cinco anos sujeito até aprende, mas daí a ser mestre é necessário muito tempo de vivência e trabalho. Muitas academias se contentam em realizar suas entregas de graduação, receber um dinheiro e ficar só nisso. Não crescem. Falta conhecimento e união. Alguns mestres se fecham em suas academias e não dão oportunidade ao seu trabalho. Quando morrem, a base se dissolve e, por ser solitário, o trabalho morre junto. Eu não, cresci e mandei outros ensinarem – Djalma Bandeira, Leopoldina e Celso, entre eles. Um mestre de capoeira que cumpra sua missão pelo alto tem que ter a consciência de que é um educador, que deve divulgar e ensinar a cultura e a arte da capoeira.”
 Mestre Gato Preto       GATO PRETO
“Para começar, não existe formatura em capoeira. Um ponto final, porque a capoeira não tem fim. Onde quer que você vá irá vê-la. O mesmo vai acontecer com seu filho, seu neto ou bisneto: onde quer que eles forem,  irão vê-la. Ela é universal, ela anda, é dinâmica, não tem formatura como o médico que aprende tudo, se forma e vai cuidar da profissão. O doutor da capoeira é a sabedoria. Para conseguir tem que prolongar a vivência na arte. Como? Dando um cordão ao menino e deixar ele treinar durante  quatro anos, para se preparar e para se acostumar com a realidade. Para conseguir a sabedoria. Com dez anos de prática ele pode ser contramestre, através de pesquisas e estudos. Então, aos vinte anos de experiência, ele pode ou não ter condições de ser mestre. Tudo depende da sabedoria e sabedoria nada tem a ver com idade.”
LEOPOLDINAMestre Leopoldina
“O que forma o mestre é a vida, o mundo, o tempo de capoeira e a vivência. É preciso ter conhecimento de capoeira como de outros assuntos. E vou mais longe: deve ter família constituída, ter esposa e filhos. Só assim conseguirá orientar seus filhos e cuidar deles.”
Mestre NacionalNACIONAL
“Eu acho que a primeira coisa é persistir na humildade, deixar a vaidade de lado e participar mais das rodas de capoeira tradicionais. Não existe o melhor, existe aquele que faz capoeira com o coração.”
        Veja na integra o depoimento dos mestres abaixo na edição da Revista Capoira #14 disponível para compra na seção “Edições Anteriores” no nosso site. Mestre Acordeon, Califórnia – EUA Mestre Amen Santo,  Califórnia – EUA Mestre Aranha, Três Lagoas – MS Mestre Bamba, Salvador – BA Mestre Barrão, Vancouvert – Canadá Mestre Boa Gente, Salvador – BA Mestre Boneco, Califórnia – EUA Mestre Burguês, Rio de Janeiro – RJ Mestre Canelão, Natal – RN Mestre Canhão, Roma – Itália Mestre Capixaba, Itaúnas – ES Mestre Catitu, São Paulo – SP Mestre Celso, Rio de Janeiro – RJ Mestre Cid, Niterói – RJ Mestre Déa, Curitiba – PR Mestre Fran, Londrina – PR Mestre Gato, Rio de Janeiro – RJ Mestre Genaro, Rio de Janeiro – RJ Mestre Girino, Jundiaí – SP Mestre Gladson, São Paulo – SP Mestre Hulk, Rio de Janeiro – RJ Mestre Itaborá, Califórnia – EUA Mestre Itapoan, Salvador – BA Mestre Jelon, New York – EUA Mestre Jogo de Dentro, Salvador – BA Mestre Kall, Brasília – DF Mestre Mago, Recife – PE Mestre Mão Branca, Belo Horizonte – MG Mestre Marcos Gytauna, Buenos Aires – Argentina Mestre Martins, Rio de Janeiro – RJ Mestre Nestor Capoeira, Rio de Janeiro – RJ Mestre Onça, Brasília – DF Mestre Paulão, Hungria Mestre Paulo Siqueira, Hamburgo – Alemanha Mestre Pinatti, São Paulo – SP Mestre Pinheiro, Juiz de Fora – MG Mestre Rã, Jundiaí – SP Mestre Ramos, Rio de Janeiro – RJ Mestre Ray, Belo Horizonte – MG Mestre Suassuna, São Paulo – SP Mestre Suíno, Goiânia – GO Mestre Tonho Matéria, Salvador – BA Mestre Tucano,  Poá – RS Mestre Val Boa Morte, Sidney – Austrália

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