A mulher na capoeira
Não é tarefa fácil precisar a importância e a influência da mulher na construção da capoeira no passado e sobretudo nos dias de hoje. A historiografia é pouco clara e muitas vezes omissa a esse respeito. Contudo, é lugar-comum entre os praticantes o fato de concebermos a capoeira como uma prática eminentemente masculina, embora o nome “ capoeira” seja um vocábulo feminino. Ela, a capoeira, embora masculina no seu vigor, é uma arte cheia de sensualidade e expressão que lembra a condição feminina do lado humano.
Sabemos que a figura da mulher foi sempre exaltada na capoeira, como na música que nos fala das vendedoras presentes nas proximidades das rodas : “Oi nega que vende ai, vende arroz do maranhão.” Algumas dessas músicas, infelizmente, fazem alusão a uma condição subalterna da mulher, na sociedade e na capoeira, ou mesmo criam um clima de desigualdade em que se incitam as mulheres a jogarem entre si: “É mulher com mulher, só joga mulher.”
Nos poucos relatos que nos chegam, sabemos que o universo da capoeiragem antiga, que se desenrolava nas ruas, era área restrita do mundo masculino, da valentia, dos arredios e corajosos que nela se aventuravam. Algumas mulheres cruzaram esse universo, embora não haja indicações quanto a presença feminina na condução das rodas e dos rituais. Entre as páginas dos jornais e as ocorrências policiais sabemos que as mulheres protagonizarem inúmeras vezes atos de coragem e luta corporal que indicava o conhecimento das técnicas de combate da capoeira. Adelaide Presepeira e Angélica Endiabrada foram algumas mulheres baianas que, com navalha em punho, promoveram desordens segundo os relatos no início do século na capital baiana.
Um dos casos mais emblemáticos de valentia ocorreu entre Pedro Porreta, renomado capoeirista baiano e Chicão, valente prostituta conhecida das esquadras policiais. Ocorre que o quarto em que residia Chicão foi invadido por Pedro que andava em busca das roupas íntimas de uma companheira sua que residia com Chicão. Sentindo-se ultrajada, Chicão desferiu lhe golpes certeiros que culminaram em algumas lesões e em sua detenção.
Cândida Rosa de Jesus, conhecida como Rosa Palmeirão, figura entre as poucas personagens femininas a ser citada na capoeiragem como participante das rodas e que mantinha relações amorosas com muitos dos capoeiras da época. Palmeirão era conhecida por seus golpes na roda, sua voz encantadora e claro, por desacatos e brigas encontradas nos relatos policiais da época.
Longe dos tempos de valentia hoje a mulher ocupa lugar de destaque na capoeira, muito embora a presença feminina entre o número de mestras seja ainda pouco expressiva. São poucas as mestras de capoeira e muito pouco preteridas no mercado dos cursos de capoeira entre os grupos. Nos grandes grupos as mulheres têm pouco destaque e é costume realizarem-se eventos femininos que, longe de dar evidencia as mulheres enquadram-nas em categorias minoritárias e desprestigiantes.
A verdade é que o lugar das mulheres está ainda por conquistar e caberá a elas saber valer a sua presença num espaço tão marcado pela masculinidade.
fonte http://www.jogodemandinga.com/a-mulher-na-capoeira/
 
 
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