sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


Perla “Capoeira pra mim é minha essência.”

Era uma das tardes de treino no parque, no ano de 2000, e uma menina esguia observava de longe a movimentação do grupo: a ginga, os saltos e o envolvimento daqueles homens com o esporte. O grupo de amigos se reunia todos os fins de semana no Parque São Cristobal de Bogotá, capital da Colômbia, para treinar movimentos de capoeira. No país, o esporte ainda era pouco conhecido, naquele tempo não era fácil encontrar academias que tinham capoeira em sua programação rotineira.
 Os meninos reunidos no parque faziam movimentos parecidos com aqueles que a menina havia visto recentemente no filme “Only the Strong”, lançado originalmente em 1993. Ela observou atenta até criar coragem para se aproximar. Ao perguntar se eles praticavam capoeira, a resposta afirmativa veio de imediato. Pronto. O vibrar do “sim” foi o início de uma nova época para aquela menina, que passou a ser a única mulher entre os homens que treinavam capoeira no Parque São Cristobal.
Foi o início de uma sequência de treinos de Jenny Leidy Moreno Arevalo, que mais tarde foi apelidada de Perla. Com 1,68 m de altura e 55 kg, aquela menina esguia que observava os desconhecidos treinando no parque completa onze anos de dedicação à capoeira. A presença feminina na capoeira é representativa na Colômbia e Perla é uma das figuras marcantes nas rodas e eventos que acontecem por lá. Com 28 anos, ela é graduada do grupo Capoeira Nagô.
O mestre do grupo, Mestre Pequinês, fala com orgulho da graduada: ”hoje, na Colômbia, ela é vista como uma grande capoeirista, que tem seu próprio trabalho com o grupo, organiza encontros femininos, organiza os batizados e é convidada por outros grupos para participar dos seus eventos. Eu, como mestre dela, acredito que em breve ela estará rodando o mundo, levando a sua alegria e o seu talento, dons de Deus”.
Nascida em Bogotá e criada num bairro simples, Perla ao concluir os estudos já começou a trabalhar e, apesar do desejo, ainda não conseguiu cursar faculdade. Única mulher entre os quatro filhos de Maria Elsa Arevalo e Jose Gabriel Moreno, ela se orgulha ao falar da família. “Minha família sempre foi e sempre será minha inspiração pra viver. Eles me ensinaram a ser a pessoa que eu sou hoje. A pessoa mais influente em minha vida foi meu irmão mais velho, que sempre me deu apoio em tudo: em minha escola, meu trabalho, e também foi a pessoa que me levou para a prática da capoeira. Ele e minha mãe são as pessoas mais valiosas em minha vida”, destacou.
Atualmente, além de dar aulas de capoeira, Perla é passista do corpo de baile Lua Nua do Beco do Samba e junto com o grupo, apresenta shows de folclore brasileiro dentro e fora do país, há quase três anos. Mas a cultura brasileira a envolveu ainda mais. Perla possui a loja “Vip da Capoeira”, que vende artigos de capoeira e outros da cultura brasileira, junto com seu irmão e seu marido – Voador, que também é graduado no Grupo Capoeira Nagô. “Depois que o tempo passa você conhece gente fora de sua família que faz com que sua vida tenha um sentido. Foi quando conheci o meu esposo, Voador, que é também meu professor de capoeira”, comenta a capoeirista.
Perla já viajou muito com a capoeira, por muitas cidades da Colômbia, além de países como Equador, Peru, Bolívia e, lógico, Brasil. Mas pretende conhecer muito mais e, quem sabe, ser uma mestra reconhecida algum dia. As oportunidades possibilitadas pela capoeira vão além da realização pessoal. De acordo com Perla, a capoeira é a essência que a matem em harmonia com a vida: “A capoeira me ajuda a me sentir respeitada, bem com meu corpo, com minha mente, me desenrola e me faz esquecer dos problemas que eu tenho na vida. Ela me faz ser uma pessoa melhor a cada dia
O que levou você a praticar capoeira?
“Na verdade foi a música e a plasticidade dos movimentos. Eu gosto muito da dança e foi isso o que mais me chamou a atenção.”
Há quanto tempo treina em seu grupo e qual a influência do seu mestre para sua vida como capoeirista?
“Faço parte do Grupo Internacional Capoeira Nagô, do Mestre Pequinês. Comecei a treinar no grupo em 2006, quando meus professores vieram de Goiânia, no Brasil, para Bogotá. Comecei conhecendo o grupo e a sua filosofia e posso falar que nunca tinha sentido uma felicidade assim com um grupo de capoeira. Capoeira Nagô, hoje, é como minha segunda família. O meu Mestre Pequinês é uma pessoa tão natural, tão simples, tão maravilhosa, que tudo que ele faz é incrível. É uma pessoa que me inspira e um exemplo a seguir.”
 E sua filosofia de vida?
“Ser eu mesma sempre, ajudar as pessoas que precisam e nunca falar com falsidade.”
O que a capoeira representa em sua vida?
“Capoeira pra mim é minha essência. Foi ela que me deu a pessoa mais maravilhosa, amigo, conselheiro, meu amor, meu esposo, me deu a grande oportunidade de ser dançarina, me deu grandes alunos que representam meus amigos, me deu um trabalho, então pra mim capoeira representa tudo em minha vida.”
Qual a sua opinião sobre a mulher capoeirista?
“A mulher capoeirista é uma guerreira e ao mesmo tempo uma pessoa paciente, cheia de virtudes e capacidades; é o motor de muitos homens nas academias de capoeira no mundo inteiro.”
Como os capoeiristas tratam a mulher na roda: o jogo é de igual para igual ou ainda prevalece aquela proteção natural do homem com relação à mulher?
“Eu acho que depende da formação que o homem teve em casa com seus pais ou na academia, com seu mestre ou mestra. A mulher na roda vai encontrar tipos diferentes de capoeiristas e precisa estar preparada. Mas atualmente é visto pouco preconceito. É difícil quando um homem não aceita que uma mulher dê uma rasteira com técnica. A resposta dele pode ser utilizar a força pra sair na frente do jogo. Mas isso vai de cada filosofia, com cada grupo ou com cada mestre.”
O que acha da Revista Capoeira?
“A Revista Capoeira pra nós, estrangeiros, é uma forma de conhecer tantos mestres, contramestres ou professores que tem o Brasil e o mundo hoje. Cada pessoa que sai nela, eu acho que se sente orgulhosa e importante por estar ali.”
Deixe aqui a sua mensagem aos capoeiristas.
“Não se esqueçam da capoeira porque ela nunca se esquece de vocês.”
RÁPIDAS
NA CAPOEIRA

Livro: Capoeira como Elemento Psicomotor
CD: vol. 2 Capoeira Nagô
Golpe: Pisão
Música: Amor é meu Amor, de Voador
Um mestre que já se foi: Mestre Bimba
Mestre Antigo: Mestre Suíno
Mestre: Mestre Pequinês
Destaque: Caráter
Lugar: Goiânia
Marca: Vip da Capoeira
Ninguém merece: machucar
Uma boa roda: roda feminina de Bogotá, 2008
Frase: A capoeira é minha vida

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