quinta-feira, 1 de novembro de 2012




Tutorial Técnicas para Aprender Capoeira e como Ensinar

CAPOEIRANDO E EDUCANDO, CAPOEIRA NA ESCOLA

Capoeira,Movimentos sensuais, os corpos
Soltos no ar, presos a terra
Numa dança e luta
Sob a luz do sol
Sob a luz da lua
Reluzindo, brilhosos
À negritude viva
No gingado do corpo,
Nos sons do Berimbau
O ritmo certo, os movimentos
A pulsação do sangue
O som do coração
Feito raízes
Feito pássaros
Leveza nos gestos, nos atos
Atacar para defender-se
Defender-se e resistir
Abastar-se do medo,
Alimentar-se de coragem
Deixar correr nas veias
Essa chama acesa,
Essa força viva…

(Carlos Henrique G. Gomes)

RESUMO

Este trabalho vem trazer uma breve síntese da história dos escravos, tornando possível à prática da Capoeira, que se desenvolveu indo para dentro das academias, com regras, uniformes padronizados, graduações ao nível de cada aluno, e também para dentro das escolas, e através de pesquisas, estudo de autores e experiências pessoais pudemos ver os resultados obtidos com a prática da

Capoeira que proporciona ao aluno interagir em situações vividas em nosso cotidiano, e tidas no espaço escolar, como atividade extra ou nas aulas de Educação Física, a prática da Capoeira motiva os alunos e dá aos educadores uma alternativa de se driblar a falta de recursos materiais e financeiros que geralmente as escolas enfrentam.

A prática da Capoeira tem finalidades pedagógicas, valores sociais e históricos e ainda pouco difundidos neste espaço, viemos discuti-la, o quanto ela acrescenta e auxilia na formação de cidadãos, no seu caráter, desenvolvendo-os fisicamente e cognitivamente através das situações de jogo de

Capoeira na roda, das músicas e cantos, e segundo Almeida (2003 apud Campos, 2003, p. 13-14), preenche uma lacuna que há em nossa arte, completa o esporte, a educação e cultura do aluno, saindo da rotina que é tida hoje nas aulas de Educação Física.

Palavras-chave: Capoeira. História. Escola. Educação. Caráter.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1: DOS ESCRAVOS, DA CAPOEIRA – HISTÓRIA

1.1 – DE ONDE VEM O TERMO CAPOEIRA
1.2 – A REPRESSÃO
1.3 – CAPOEIRA NOS DIAS DE HOJE
1.4 – COMPONENTES , ESTILOS DA CAPOEIRA

CAPÍTULO 2: EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE NA ESCOLA

2.1 – EDUCAÇÃO FÍSICA E CAPOEIRA
2.2 – CAPOEIRA É ESPORTE, É DANÇA, É LUTA, É JOGO!
2.2.1 – Esporte e Capoeira
2.2.2 – Dança e Capoeira
2.2.3 – Jogo e Capoeira
2.3 – CAPOEIRA NA ESCOLA
2.3.1 – A atuação do educador de Capoeira na escola
2.3.2 – Importância pedagógica da Capoeira
2.3.3 – Transformando com a educação

CONCLUSÃO

INTRODUÇÃO

Nossa pesquisa se baseia na importância pedagógica da Capoeira na escola, em como a Capoeira pode ajudar na formação do aluno em todos os seus aspectos, motores e afetivos.

Isto através de nossas experiências pessoais, em nossas leituras no decorrer de nossas vivências já há algum tempo na Capoeiragem, que é uma arte, cultura, dança, jogo, luta e esporte, ao qual nos possibilitou aprender, refletir e também ensinar.

Mesmo diante destas amplas possibilidades, que ao decorrer do trabalho iremos discutir, nos defrontamos com alguns aspectos que permeiam o mundo da Capoeira afim de taxá-la como apenas folclore, uma luta violenta, ou “coisa de vagabundo”.

Aspectos estes que despertou-nos para a necessidade de ações para reverter estas idéias preconceituosas que dá pouco espaço desta prática dentro do currículo escolar, já que alguns autores e também nossas vivências têm nos mostrado o contrário.

Usando como base nossas experiências, onde tivemos no decorrer de nosso aprendizado, nas viagens, ouvindo histórias, e vivendo situações diversas, isto é, a prática como um todo, podemos então falar de toda esta importância, trazendo-a para dentro da escola, atividade rica em possibilidades, tanto para quem a pratica, como para quem a ensina, não tendo rotinas e formando cidadãos de caráter , proporcionando bem estar físico e mental.

CAPÍTULO 1: DOS ESCRAVOS, DA CAPOEIRA – HISTÓRIA

Segundo Carvalho (2000), partindo do descobrimento do Brasil, por volta do ano de 1540 chegam os primeiros escravos negros, vindos de diversas partes da África e aqui foram misturados para não difundirem sua cultura.

Muitos destes escravos eram negros Bantus, da região de Angola, chegavam aqui em porões dos navios negreiros, ficando em condições sub-humanas (amordaçados, amarrados e torturados), alguns de tanta tristeza acabavam adoecendo e morrendo.

Esses negros eram transportados nos porões dos chamados navios negreiros ou tumbeiros, em condições precaríssimas e sub-humanas, onde muitos sucumbiam, por não agüentar os rigores de uma viagem longa, acometidos de doenças em virtude dos maus tratos (CARVALHO, 2000, p.3).

Devido à falta de documentos que registrem estas passagens, surgem controvérsias sobre as origens da Capoeira, se brasileira ou africana.

Há hipóteses de que a Capoeira foi criada aqui no Brasil em 1600 por escravos Bantus que vieram de Angola, ou que a Capoeira nasceu aqui através da mistura de muitas lutas, rituais e danças de várias partes da África, onde nas senzalas os escravos cantavam e dançavam para diminuir seu sofrimento.

Ainda segundo Carvalho (2000), é quando nesta mesma época surgem os primeiros Quilombos, após as invasões dos holandeses ao Brasil. Os Quilombos eram formados em sua grande maioria por negros fugidos da senzala em busca de liberdade, lá preservavam sua cultura e tradições.

O mais importante Quilombo foi o de Palmares (1604-1695), situado na Serra da Barriga, hoje estado de Alagoas, liderados por Gamga-Zumba e Zumbi, abrigando mais de 30 mil pessoas, entre elas negros, índios, mestiços e brancos pobres.

Cessando o domínio dos holandeses, muito dos negros para não terem de voltar para as senzalas se suicidaram. Independente das suas origens, a Capoeira era uma forma de resistência dos escravos africanos, instrumento de libertação do negro contra a opressão do branco.

Desenvolveu-se em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, eram praticada em momentos de folga nas senzalas, usavam a ginga e a música junto com os golpes para que os capitães-do-mato não percebessem que estavam treinando para um possível ataque quando fugiam para os quilombos e precisavam defender-se deles.

1.1 – DE ONDE VEM O TERMO CAPOEIRA

Segundo Moraes (2000), antes do tráfico de escravos, havia no Brasil somente índios que usavam algumas técnicas de agricultura, destacando-se a COIVARA e a KAPU’ERA.

Após a chegada dos negros escravizados que vinham para substituir os índios na monocultura de cana-de-açúcar, os mesmos não se desfizeram das técnicas já existentes e acabaram por usar a técnica da KAPU’ERA, que consistia em cortar o mato baixo para plantio posterior, diferente da técnica COIVARA onde os arbustos eram queimados.

Para Rego (1968), o termo Capoeira tem origem descendente da língua tupi-guarani, que segundo José de Alencar (1865) na primeira edição de Iracema, significa mata já cortada, mato virgem. Atualmente as opiniões são unânimes em aceitar que Capoeira vem de Kapoeira, que quer dizer roça abandonada, da qual o mato já tomou conta.

Também a palavra se liga ao canto de um pássaro chamado Capoeira, existente no Brasil, é uma espécie de perdiz pequena que anda, sempre em bandos no chão, muito procurada, esta espécie é atraída pelo assobio dos caçadores no mato.

O macho da ave Capoeira é muito ciumento e por isso trava lutas com os seus rivais, é onde associamos estes movimentos de luta ao jogo de Capoeira.

Hoje já temos a seguinte definição no dicionário da língua portuguesa: ‘Jogo atlético, com um sistema de ataque e defesa de caráter individual, com um sistema de ataque e defesa’ , junto de ‘terreno onde o mato foi roçado e/ou queimado para cultivo da terra, ou para outro fim’, e ainda ‘quem a pratica’ (FERREIRA, 2000, p. 129).

Capoeiras = Termo usado para designar aquele que pratica a Capoeira.

1.2 – A REPRESSÃO

Segundo o texto de Bernardino [s.d,] à revista Pura Tentação, o crescimento de adeptos a prática da Capoeira, começou a preocupar a elite logo depois que os escravos foram libertados em 1888, os Capoeiras por não terem emprego começam a roubar, iniciando um processo de perseguições e prisões.

Segundo Carvalho (2000), a perseguição policial aos Capoeiras∗, e a repressão à cultura negra se intensificou após a chegada da família Real em 1808. O Major Miguel Nunes Vidgal nomeado comandante da Guarda Real da Polícia criada em 1809, foi o terror dos Capoeiras, perseguindo, espancando e torturandoos afim de exterminá-los.

Mesmo assim, os Capoeiras continuaram resistindo à repressão acarretando um aumento nas punições para quem praticava a Capoeira, das 300 chibatadas que já eram submetidos, também deveriam passar três meses reclusos realizando trabalhos forçados. Na segunda metade do século XIX (1850), os Capoeiras começam a formar maltas, e acabam perseguidos e presos.

As primeiras maltas começaram a formar-se por volta de meados do século XIX em (1850), quando a Capoeira começa a espalhar-se pelo Rio e absorver outros grupos, dentre eles imigrantes portugueses, negros libertos, intelectuais, policiais, jovens da elite [...] (CARVALHO, 2000, p. 22).

As principais maltas eram os Guaiamuns, ligados aos Republicanos do Partido Liberal e controlavam a região central da cidade do Rio de Janeiro e os Nagoas que eram ligados aos monarquistas do Partido Conservador e agiam na periferia, servindo também de aliado para os políticos.

Após a proclamação da República em 1889, Marechal Deodoro proibiu a Capoeira por entender que seus praticantes perturbavam a ordem vigente. De acordo com o decreto 847 de 1890. Intitulado “Dos vadios e Capoeiras”, capítulo XII citado por Carvalho (2000, p. 23):

Artigo 402: Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação de capoeiragem; andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal. Pena: prisão celular de dois a seis meses.

Parágrafo Único: É considerada circunstância agravante pertencer o capoeira a algum bando ou malta. Aos chefes e cabeças, impor-se à pena em dobro.

Segundo Carvalho (2000), em texto a revista Praticando Capoeira descreve os maltas:

Os Nagoas atuavam na periferia, chamado de Cidade Velha. Eram ligados aos monarquistas do Partido conservador; e tinham uma tradição escrava e africana.

Os chapéus eram sinais que diferenciavam os integrantes das duas grandes maltas. Os Nagoas usavam um chapéu com a cinta de cor branca sobre o vermelho e as abas pra frente e para baixo.

Os Guaiamuns atuavam na região central, chamada Cidade Nova. Eram ligados aos Republicanos do Partido Liberal; tinham uma tradição mestiça, absorveram muitos imigrantes, crioulos [ * ], homens livres e intelectuais. Usavam um chapéu com uma cinta cor vermelha sobre a branca e as abas para frente e para cima (CARVALHO, 2000, p. 23).

Maltas = grupos formados por Capoeiras com fim a aterrorizarem a população, fazendo arruaças, e se aliando a partidos políticos para atrapalharem seus adversários.

1.3 – CAPOEIRA NOS DIAS DE HOJE

A prática da Capoeira hoje é muito grande, ela é bastante difundida entre os Grupos de Capoeira, através de seus eventos de Batizado (entrega e troca de graduações), e Campeonatos realizados, também pela mídia, que mostra a importância desta prática para o bem estar físico e mental do aluno, fazendo parte da cultura brasileira, formando o indivíduo em todos os aspectos, uma prática que desenvolve, levando á pratica de um esporte, uma simples atividade física, a uma filosofia de vida, ou como trabalho.

1.4 COMPONENTES, ESTILOS DA CAPOEIRA

A Música

Através dos instrumentos musicais, se tem o ritmo do jogo, da movimentação, do comportamento dos praticantes, relaxa o Capoeirista e serve para mascarar suas emoções e intenções, e em segundo plano, aquele aluno que não quiser executar os movimentos de ataque e defesa, poderá cantar, compor músicas, tocar os instrumentos que também são ensinados no decorrer do aprendizado.

A prática da Capoeira é um acontecimento completo, onde a luta é estimulada e ritmada pelos sons dos instrumentos musicais típicos, e com o canto busca-se o comportamento social dos alunos.

Propiciando também a música dar ritmo, segundo Campos (2001, p. 131), facilita os alunos em seus treinos e no jogo, pois torna os movimentos mais bonitos, com mais técnica, os movimentos são feitos com maior economia e liberdade de expressão individual, diminuindo o cansaço e dando uma maior motivação.

Os instrumentos usados são :

• Berimbau: Instrumento de percussão, que dita o ritmo do jogo da Capoeira, feito com um arco de madeira preso a um fio de arame com uma cabaça presa em sua extremidade inferior.

• Dobrão: é uma moeda, ou pedra, utilizada no toque, que conforme a pressão dada ao encostá-la no arame produz diferentes sons no berimbau.

• Vaqueta: feita de madeira, tem a sua extremidade um pouco mais grossa, também tocando no arame para produzir som no berimbau conforme seus toques.

• Pandeiro: é um aro com ou sem guizos, onde se estica uma pele sobre este aro, geralmente tocado com as mãos.

• Agogô: de origem africana, possui duas campânulas de ferro unidas, percutidas com vareta do mesmo metal.

• Atabaque: espécie de tambor, feito com couro esticado em uma estrutura em cone feita de madeira, tocado com as mãos, também de origem africana.

• Reco-Reco: feito de bambu, contém gomos com rasgos entre eles e vai se passando a vareta de um lado para o outro se tirando sons rascantes e intermitentes.

• Caxixi: é uma pequena cesta trançada de vime com uma alça, dentro dela sementes, que são seguradas pelo tocador junto ao berimbau como um chocalho.

Exemplo de música:

A Capoeira e o Pescador
Ê, maré me leva, ê , maré me traz
Ê, maré me leva, ê , maré me traz (coro)

A vida do Capoeira. É como a do pescador
A onda balança o barco, e a ginga o jogador Refrão, (coro)

Eu, à noite olho as estrelas, para me orientar
Com Jesus dos navegantes, eh, quem me guia pelo mar Refrão, (coro)

O vento soprou nas velas, carregando a minha nau,
Na roda da Capoeira, quem me guia é o berimbau Refrão, (coro)

Às vezes a pesca é boa, às vezes, o jogo é bom
Mas quando nada dá certo, eu volto a tentar então Refrão, (coro)

Às vezes vem a traíra, um peixe que morde a mão
Na roda brilha a navalha, e os cinco salomão Refrão, (coro)

(Cantor = Boa Voz no CD do Grupo de Capoeira Abada)

Golpes

Os golpes são os movimentos usados de defesa e ataque na prática da Capoeira, através deles treinam-se seqüências de movimentos que auxiliam na coordenação, equilíbrio, força, velocidade e resistência, é como se fossem perguntas e respostas, o aluno faz um movimento de pergunta “ataca”, e o outro responde com outro movimento “defesa”, podendo já perguntar em seguida, o “contra-ataque”.

Junto destes golpes usa-se a ginga, que segundo Campos (2001, p. 55), é o que torna a Capoeira uma prática totalmente distinta das outras artes marciais, com a ginga, podemos estudar o adversário, isto é, analisar e planejar qual ataque, ou finta de ataque será utilizada, é através da ginga que impomos ritmo ao nosso jogo, conforme o toque do berimbau, da ginga saem às esquivas, é onde colocamos toda a nossa expressão corporal, pois é onde o Capoeirista mostra seu próprio estilo de jogar, se descontrai, treina seus reflexos por ficarmos em constante movimento.

Segue o nome de alguns movimentos, golpes mais conhecidos:

Movimentos Básicos:

• Aú
• Cocorinha
• Negativa
• Role
• Ginga
• Martelo
• Meia lua de frente
• Meia lua de compasso
• Chapa
• Gancho
• Queixada
• Armada

Movimentos Desequilibrantes:

• Arrastão
• Banda de costas
• Tesoura de costas
• Tesoura de frente
• Rasteiras
• Banda trançada
• Benção
• Cruz
• Crucifixo
• Vingativa
• Cabeçada

Estilos

Os estilos surgiram, na necessidade de diferenciar a Capoeira jogada desde antigamente até hoje, com seus toques e movimentos, fundamentos e tradição.

Capoeira Angola

Na Capoeira Angola predomina a malícia, Vicente Ferreira Pastinha (1889-1982) – Mestre Pastinha, “tomou conta” desta Capoeira tradicional, aperfeiçoando a arte centenária dos escravos, colocando regras, levou-a para dentro das academias, com um método de ensino se baseando em todo fundamento e tradição de antigamente, foi com ele que instituíram as cores amarela e preta para o uniforme dos angoleiros e definindo os instrumentos para angola sendo três berimbaus, dois pandeiros, atabaque, reco-reco e um agogô.

O jogo de Angola é um jogo de inteligência, resistência e muita mandinga, um jogo objetivo e bonito. Geralmente lento, usa movimentos acrobáticos, joga-se mais no chão e próximo ao companheiro em defesa, fintando movimentos para o ataque.

O jogo é sem pressa, com fluidez e evoluções , segundo Costa (1993, p. 51), “é antes de tudo um estado de espírito do jogador, onde se tem que respeitar o ritmo e o toque do berimbau [...]”.

O jogo de Angola começa com uma ladainha que é sempre cantando um fato ou uma história, depois se segue com uma chula que é um canto de louvor e para o desenvolver do jogo canta-se um corrido que é a continuidade da ladainha com pequenas estrofes.

Só canta-se a ladainha novamente se o jogo parar e dois novos jogadores recomeçarem o jogo.

Capoeira Regional

Manoel dos Reis Machado, nascido em 1900, conhecido como Mestre Bimba, foi um angoleiro que inovou a Capoeira, criando a Capoeira Regional em 1928, com adaptações e introdução de golpes de outras artes marciais, usando todo o seu conhecimento da Capoeira Angola e do Batuque que se caracterizava por jogar o adversário no chão usando somente as pernas:

“Em 1928 eu criei, completa, a regional, que é o batuque misturado com a angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente” (ALMEIDA, 1994 apud CAMPOS, 2001, p. 17). É um jogo mais duro e rápido, com movimentos mais em pé, onde se padronizou o uniforme branco, com isso atraindo também a classe dos brancos, mais ricos, mulheres e crianças.

CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE NA ESCOLA

2.1 EDUCAÇÃO FÍSICA E CAPOEIRA

Quando se diz que faz Educação Física, se está fazendo exercícios físicos intencionais, com base nos conhecimentos teóricos dos professores, valorizando o movimento humano voluntário, no seu desenvolvimento e aprimoramento de suas capacidades e potencialidades, de sua consciência corporal, de educação e saúde com a prática esportiva e expressão corporal.

A Capoeira é uma prática que engloba luta, dança, expressão corporal, esporte, jogo e proporciona aos alunos que a pratica desenvolver todos os aspectos acima citados, é uma atividade onde em movimento nenhum só músculo fica em repouso.

Para Daólio (2003), a Educação Física na escola, em seus blocos de conteúdo que se resumem em jogo, ginástica, dança, luta e esporte, devem ser explorados, como e em que momento deve ser aplicado, pois através destes conteúdos o professor além de mediador se torna aprendiz.

A Educação Física na escola tem de formar os alunos no sentido de proporcionar que eles participem das atividades corporais propostas, conhecendo, valorizando e respeitando a si mesmo, ao próximo e ao ambiente em que vive, conhecer as diversidades de saúde, beleza e desempenho, existentes em cada cultura a fim de a ninguém excluir ou julgar, poder intervir, mudar, organizar independentemente as suas atividades.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCNs), fala-se que como base as aulas devem se dirigir a todos os alunos, sem nenhuma exclusão ou discriminação de qualquer aspecto, em suas palavras:

A sistematização dos objetivos, processos de ensino e aprendizagem e avaliação tem como meta a inclusão do aluno na cultura corporal de movimentos, por meio da participação e reflexão concretas e efetivas.

Busca-se reverter o quadro histórico de seleção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais, resultante da valorização exacerbada do desempenho e da eficiência (BRASIL, 1998, p. 19).

Geralmente os alunos quando não se sentem integrados, abandonam as aulas, até mesmo a escola. Pode também esse abandono ocorrer por o aluno não ter condições aos materiais adequados para acompanhar as aulas, ou por terem precocemente de ir para o mercado de trabalho a fim de ajudar a família, por repetirem o ano, entre outros motivos.

A Educação Física na escola, possibilita aos alunos que participam das aulas, o seu desenvolvimento, os integram, os tornam solidários e cooperativos. A Educação Física proporciona diversidade no que se diz respeito às atividades, e é isso que propomos com a Capoeira, além de uma atividade física diferente das outras, engloba disciplinas como história, tratando do folclores, origens e cultura.

Algumas escolas geralmente não dispõem de muitos recursos financeiros e materiais para dar aos alunos, é onde entra a prática da Capoeira que não necessita quase nada em recursos materiais e financeiros pois o fundamental para que possamos iniciar o aprendizado é apenas um local, um espaço.

2.2 CAPOEIRA É ESPORTE, É DANÇA, É LUTA, É JOGO!

2.2.1 Esporte e Capoeira

Enquanto esporte a Capoeira deve ser entendida como uma atividade competitiva, realizada com técnicas, regras, habilidades e objetivos propostos pelas modalidades esportivas, dando-lhe significado e identidade, podendo também, ser praticado com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus praticantes.

O esporte está a cada dia se ampliando, e ocupando um maior espaço em nossa sociedade. Com valores educacionais, de saúde, fazendo parte da vida das pessoas. Hoje o esporte nacional e internacional tem destaque nos meio de comunicação e em reflexões por parte de estudiosos, dentro da sua prática.

Trazendo a prática da Capoeira como esporte cooperativo, através do jogo de Capoeira nas rodas, os alunos se divertem, e todos têm sentimento devitória, há mistura de grupos gerando uma aceitação mútua, todos participam sem nenhuma exclusão, aprendem a compartilhar, ficam autoconfiantes, responsáveis a tomar atitudes, onde a cada jogo ele se depara com uma situação diferente da outra, podendo criar, planejar através de seu conhecimento e criatividade, acabam por se ajudarem, avaliam que seu resultado também depende da atuação de seus colegas, participam mais, são mais produtivos e qualificados.

O esporte firma o que é estabelecido pela sociedade, nossas diferenças, valores sociais, nos permite criar uma nova identidade ou reafirmá-la, dá espaço a contestações, tem função social. Através da mídia se impõe cada vez mais, segundo Macclancy (1996).

2.2.2 Dança e Capoeira

A dança é organizada com movimentos ritmados do corpo com ênfase no componente lúdico caracterizado na expressão artística e criativa de nossas emoções e sentimentos. Pois antes mesmo de nos comunicarmos com as palavras, usamos nosso próprio corpo, para expressarmos nossas emoções e sentimentos.

Ritmo e dança, andam juntos, pois temos a dança como expressão despojada do movimento, marcada pelo ritmo do dançarino, diferenciando-se dos movimentos comuns, que ao decorrer do tempo tornou-se complexa, sendo executada por pessoas e grupos organizados com características próprias e componentes socioculturais.

A prática da Capoeira vem incluir a dança, pois todo o aspecto da luta, do jogo, com a ginga, fintas, toda a mandinga é uma manifestação onde predomina a expressão corporal, o ritmo próprio que cada aluno tem e a própria luta, que disfarçada em dança era uma forma que os escravos tinham para esconder dos capitães-do-mato que estavam treinando movimentos de ataque.

2.2.3 Jogo e Capoeira

Para Huizinga (1996) o jogo tem conteúdo lúdico, e age em forma de jogo, mesmo nas execuções de necessidades básicas como a caça, para a sociedade mais primitiva tem caráter lúdico.

È mais que esporte, tem sentido como descarga e recarga de energia, satisfação, preparação e transformação para a vida cotidiana, realizações, autocontrole, pratica da competição.

Com a Capoeira, inclui-se à medida que a sua prática tem começo e fim, espaços delimitados, regras, pode repetir-se, cria ordem, é ordem, tem ritmo e equilíbrio, há uma luta constante por algo, metas.

2.3 CAPOEIRA NA ESCOLA

“A capoeira não é só cultura física, ela proporciona o desenvolvimento integral de quem a pratica” (Mestre Paulão).

A partir de experiências pessoais durante nossa formação, vimos pouco espaço dedicado à prática da Capoeira dentro do âmbito escolar, seja como parte das aulas de Educação Física, obrigatórias no ensino de primeiro e segundo graus, quanto como atividade extracurricular dentro da escola.

Percebemos uma maior aceitação de outras artes marciais, o judô por exemplo, e esquecendo que a Capoeira em sua prática e teoria aborda tanto aspectos físicos, habilidades motoras e o aspecto cultural através das músicas e representações folclóricas.

A prática da Capoeira na escola promove a integração entre alunos e professores , os projetos em torno desta prática tem como objetivo desenvolver os aspectos motores e psicológicos, onde obtem-se resultados positivos.

Muitas Universidades e Escolas Públicas, já adotam a prática da Capoeira em seu currículo escolar, alvo de grande interesse, e de muitas pesquisas, arte esta que traz fortes características dos negros, e para quem a pratica se enriquece não só dos valores técnicos enquanto luta, mas físicos, cognitivos com o que vem desde o passado.

Somando aos projetos desenvolvidos dentro das escolas, são também executados com crianças de rua, com os mesmos resultados, os desenvolvendo culturalmente, proporcionando oportunidades, trabalho este que leva a criança sem oportunidade de estudar, um ambiente que o orienta para a vida, tirando-as da rua.

2.3.1 A atuação do Educador de Capoeira na Escola

O educador de Capoeira não deve se descuidar da responsabilidade que lhe cabe como educador dentro da estrutura formal do ensino brasileiro, e dispondo de um dos poderosos instrumentos para formar o caráter de seus alunos, como atividade básica, aulas de Capoeira que é um jogo.

Este jogo oferece uma gama de oportunidades para a criação e o desenvolvimento de situações educacionais, onde através dela o aluno projeta a sua personalidade.

O jogo é uma escola de vida, onde todas as experiências podem ser vivenciadas à semelhança do que terão oportunidade de reproduzir em seu cotidiano.

A turma de aula é praticamente um grupo social, sob a liderança de um mestre. O professor simboliza a perfeita noção de autoridade. A soberania das regras dos jogos, a ambição da vitória, a força que impulsiona a todos na conquista de um objetivo comum.

Estes são fatores presentes na sociedade: o grupo social, a disputa, a autoridade e a lei. No jogo todos agem, interagem e reagem, se projetam os desonestos, os covardes, os apáticos, os ambiciosos, os desleais, os delatores, os líderes, os submissos.

Tratando-se de grupos de formação, cabe ao educador, com perseverança e serenidade, exercer eficiente ação educativa.

Não basta utilizar o trabalho físico como instrumento de desenvolvimento corporal, é preciso que este seja alcançado através da sedimentação e aperfeiçoamento de valores morais que formam o caráter e fundamentam o relacionamento social, entre eles a honestidade, lealdade, perseverança, cooperação, pontualidade, disciplina, humildade, liderança e respeito ao próximo.

Agindo desta forma, enfocando a Capoeira não como objetivo final, mas um meio de formação e preparo para a vida.

E estabelecendo de forma clara e objetiva os valores que devem reger uma sociedade e despertar nos alunos a sua importância para a ética social, acreditando que o caráter é moldado na infância, e os educadores devem desenvolver com a atividade física o espírito de cooperação e associação, trazido pela educação em abordagem humanista.

Com o objetivo da prática da Capoeira levando a formação e preparação dos alunos, enfatizam-se seus valores e funções na sociedade, o aluno aprendendo com as experiências, dando base para o seu futuro.

Para isso o educando atua com o objetivo de desenvolver nos alunos as capacidades tanto do movimento, como a de responder as situações impostas no cotidiano, e em atividades, esportivas ou não, conseguidas através da roda de Capoeira que exige, o aprendizado motor, cognitivo, afetivo-emocional, enfim, o educador associa a atividade física aos valores sociais que pretende passar aos alunos.

2.3.2 Importância Pedagógica da Capoeira

Na prática podemos ver nas rodas de Capoeira, situações de nosso cotidiano: a agressividade, a maldade, a herança genética que trazemos, por exemplo, onde somente os mais fortes e aqueles que buscam se adaptar às novas regras é que se dão bem.

A prática da Capoeira vem trazendo a capacidade junto com a inteligência e força, mas para serem usadas no crescimento sem competições, nos possibilitando pensar, criar e planejar com humildade, persistência, valorizando a si mesmo e ao próximo.

Junto, e progressivamente com o jogo de Capoeira, desenvolve-se a força, equilíbrio, coordenação, destreza, ritmo, enfim, um conjunto de habilidades psicomotoras.

É a prática da Capoeira na escola proporciona aos alunos vivenciar, experimentar situações que presentes os valores estabelecidos pela nossa sociedade, que serão incorporadas ao seu caráter e servem de base para seu relacionamento social.

Os valores morais são tidos através dos jogos de Capoeira, respeitando as regras estabelecidas, sem buscar maneiras de contravir e sim se integrar; a lealdade usando somente os recursos permitidos a todos, perseverança, através da constante busca de aprimorar sua habilidades, aptidões; cooperação, ajudando seus companheiros a conquista de bem comum, seja de vitória ou não, ou simplesmente melhorar uma situação; respeito ao próximo, através de um permanente relacionamento fraterno; disciplina, pela observação constante de normas, sejam elas higiênicas ou comportamentais, onde são orientados a não fazerem ao próximo o que não deseja que lhe façam; pontualidade, cumprindo os horários estabelecidos para as aulas; obediência e humildade, encarando a vitóriacomo uma circunstância, sem fazer dela um instrumento de opressão ao derrotado; liderança, nos jogos ou nas atividades extraclasse, conduzindo os menos aptos naquelas situações ao bem comum.

2.3.3 Transformando com a Educação

Vivendo com tantas diferenças, a educação é necessária para transformar, o indivíduo forma seu caráter, seu senso crítico e solidário, superando obstáculos, desenvolvendo seus valores de humildade, cooperação, respeito, disciplina, liderança e com a prática da Capoeira torna-se instrumento para esta transformação, formação dos indivíduos, que se desenvolvem tanto fisicamente como cognitivamente interferindo de forma positiva em sua personalidade.

A Capoeira traz o desenvolvimento da coordenação motora no aluno e também o torna mais motivado e ativo dentro da sala de aula, a roda de Capoeira trabalha muito com a concentração, com estímulos visuais e auditivos, com isso os alunos ficam mais comportados.

CONCLUSÃO

Concluímos no presente trabalho a importância que a prática da Capoeira na escola traz em desenvolvimento das capacidades físicas, cognitivas, afetivas e motoras, como também a integração entre os próprios alunos, e do aluno e professor.

Com o jogo da Capoeira é possível educar pois através de todos os movimentos ensinados, música e cantos e a sua própria história, o aluno se torna crítico, responsável, cooperativo, formando seu caráter, sua personalidade.

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