terça-feira, 26 de junho de 2012

A MULHER NA CAPOEIRA


A MULHER NA CAPOEIRA

Em todas as pesquisas feitas em torno da mulher na capoeira chegamos a mesma conclusão e ouvimos sempre as mesmas historias...de que a mulher foi um tanto discriminada, foi mal vista, mal tratada..ou tratada com indiferença.
Já por ser uma luta que veio da escravidão dos negros, já é algo que traz a idéia do preconceito incutido em sua bagagem, Mulher fazendo capoeira então nem se fala.
Mas o Brasil, um pais de miscigenações e culturas diferenciadas, onde nasceu a capoeira, abre espaço lentamente para a entrada da mulher nos esportes antes tidos como masculinos.
O futebol hoje por exemplo conta com a presença constante de mulheres. E assim acreditamos que vá acontecer também com a capoeira.
Encontrasse documentos sobre os Mestres mais antigos, pois basta comentar de um deles...e todo mundo já ouviu falar. Mas onde estão os documentos que falam de Maria Homem, Calça Rala... ou Satanás???
E o que se dá por entender que os apelidos dessas mulheres? que para jogar capoeira ela necessitava se masculinizar...para poder ser aceita na roda de malandros. O que gerava também mais um preconceito em cima do que já custava ser um capoeira...agora somente bastava ser mulher!!!
Na historia da capoeira contase que Bimba foi um dos grandes Mestres que com sua capoeira trouxe mulheres para dentro da convivência masculina das rodas... e entre elas a famosa “Maria 12 Homens, Calça Rala, Satanás, Nega Didi e Maria Pára o Bonde."
Bons de briga
Personagens lendários como Rosa Palmeirão, a capoeirista que serviu de inspiração para a personagem de Jorge Amado no romance Mar Morto. Além dela, que era respeitada e temida, outra mulher arretada sacudiu o mercado, chamava-se Maria 12 Homens, também capoeirista e assídua freqüentadora das rodas do Cais Dourado e da rampa do Mercado Modelo. O sobrenome de Maria, a história de memória curta de Salvador não registrou, mas o apelido, diz a lenda que ela conseguiu depois de levar 12 marmanjos a nocaute. 
Hoje temos muitas mulheres famosas na Capoeira o que vem a fortalecer essa modalidade esportiva. Colocando em contao benificio de aumentar a disciplina no cotidiano, modelar o corpo, obter mais agilidade e auxiliar no tratamento psicológico feminino, como um resgate de seu lado brincalhão que atualmente esta recôndito, agregado com a necessidade de impor seu lugar na sociedade machista!
Respeitadas por muitos Mestres sejam eles Angoleiros ou seguidores da capoeira Regional, as mulheres são dedicadas a capoeira em si, preferindo esse ou “aquele” estilo de jogo. Sendo ele capoeira é o que vale, elas querem é entrar na roda e jogar.
Enfim a mulher veio colocar sua graça e delicadeza em um universo que antes somente pertencia aos homens como muitos outros onde elas vem se estabilizando e mostrando a que vieram, não para tomar conta, ou dominar, mas com a idéia de acrescentar, somar e deixar com certeza esses “ mundos” mais belos!!!!
Nas rodas de capoeira onde entram mulheres os rapazes sempre agradecem a presença delas por deixarem a roda mais bonita. E são elas cantadas em musicas pelo mundo inteiro, onde se contam as lendas que as mulheres eram disputadas em uma luta pelos jogadores. As canções trazem a mulher sempre com a saudade, a bela que abandonou o capoeira, ou a mulher que acompanha o jogador em sua vida. E assim até hoje, pois afinal quem lava os abadas ? Mas essas Marias, cantadas em versos de Bimba ou Pastinha, são as Marias de hoje, guerreiras, lutadoras incansáveis que provavelmente depois da roda vão embalar seus filhos, fazer a comida, lavar o abada, cantar uma cantiga de capoeira para por o pequenino para dormir.
Sejam elas brancas, negras, ou amarelas estão aqui e vieram para ficar, como conseqüência aumentar a batalha para retirar da capoeira a imagem de marginalização que ficou do tempo dos escravos, ajudar a criarem um mundo diferente para seus filhos e filhas que queiram iniciar na capoeira, aprendendo a respeitar o próximo como um igual.


artigo tirado do site http://www.muzenzacrianca.com.br/trajetoria.php



A Mulher na Capoeira.


Hoje em dia, é quase impossível assistir a uma roda de capoeira, em qualquer canto do mundo, onde não haja a presença feminina. As mulheres, com todo o direito, estão conquistando a cada dia, mais e mais espaço nesse universo que durante muito tempo foi predominantemente um espaço masculino.

A importância da mulher na capoeira vai muito além da graça e beleza que elas proporcionam a essa manifestação. A mulher sendo respeitada e valorizada numa roda de capoeira, garante que esse espaço seja cada vez mais um espaço democrático, onde a diversidade e a convivência harmoniosa entre os diferentes, significam um exemplo de tolerância e convívio social nesse mundo tão cheio de preconceitos e discriminações. Este exemplo é um dos ensinamentos mais importantes que a capoeira oferece às sociedades contemporâneas.

Além disso, a mulher é fundamental no trabalho de organização da capoeira. Não podemos pensar numa academia ou num grupo de capoeira, em que as mulheres não ocupem um papel estratégico nessa função. Talvez isso se dê pelo fato da mulher possuir essa capacidade de organização num grau mais desenvolvido que os homens, não sei. Só sei que sem as mulheres nessa função, a maior parte dos grupos de capoeira de hoje em dia não sobreviveriam por muito tempo.

Já temos também muitas mulheres com o título de “mestre” ou “mestra” de capoeira, como queiram. E são mulheres muito respeitadas no meio, que realizam trabalhos importantes e reconhecidos, apesar de ainda haver resistências por parte de alguns setores mais conservadores da capoeira. Mas é uma questão de tempo para que esse tipo de preconceito seja também superado.

Mas é bom lembrar que apesar do universo da capoeira ter sido predominantemente masculino, existiram muitas mulheres que deixaram seus nomes gravados na história da capoeiragem. Só para citar alguns nomes, a capoeira de outrora traz histórias impressionantes de valentia e destreza de algumas mulheres como: Maria Doze Homens, Salomé, Catu, Chicão, Angélica Endiabrada, Almerinda, Menininha, Rosa Palmeirão, Massú, entre muitas outras mulheres. Histórias que envolviam enfrentamentos com a polícia, brigas com navalha, e até mortes de valentões famosos como Pedro Porreta, que segundo algumas pesquisas indicam, foi de autoria da temida “Chicão”, conforme relatam jornais da época.

Vem jogar mais eu, mulher….vem jogar mais eu…que na roda de capoeira, o espaço também é seu !

Pedro Abib (Pedrão de João Pequeno) é professor da Universidade Federal da Bahia, músico e capoeirista, formado pelo mestre João Pequeno de Pastinha. Publicou os livros “Capoeira Angola, Cultura Popular e o Jogo dos Saberes na Roda”(2005) e “Mestres e Capoeiras Famosos da Bahia”(2009). Realizou os documentários “O Velho Capoeirista” (1999) e “Memórias do Recôncavo: Besouro e outros Capoeiras” (2008). 

Fonte: http://www.portalcapoeira.com


A mulher na capoeira


Fui assistir a um batizado de capoeira na noite de sexta. Para quem não conhece os rituais da capoeira, dessa expressão originária da cultura negra do Brasil, lá vai uma definição do Wikipedia que me pareceu boa: “O batizado é uma roda de capoeira solene e festiva, onde alunos novos recebem sua primeira corda e demais alunos podem passar para graduações superiores. Em algumas ocasiões pode-se ver formados e professores recebendo graduações avançadas, momento considerado honroso para o capoeirista”.
Sempre considerei bastante acessível o ambiente da prática da capoeira, no qual todos podem participar desde que respeitem a hierarquia dos professores e dos capoeiristas mais velhos. Isso nos ensina a sermos pessoas mais humildes e a respeitar quem sabe mais que a gente, independente de cor de pele ou do gênero daquele que ensina. No batizado de sexta, ainda houve apresentações de Samba de Roda e de Maculelê, uma dança de bastões, ambas apresentadas por aqueles que participavam da capoeira, a atração principal da noite. Gostei bastante do batizado e não pude deixar de reparar que a ampla maioria era composta de homens e uma grande parte deles, negros. Dentre as três graduações mais elevadas, havia apenas uma mulher.
Apesar desse ambiente acessível, a primeira vez que me lembro de ter sofrido preconceito explícito por ser mulher foi na capoeira. Era interior de São Paulo, lá pelo fim dos anos 90, início dos anos 2000, quando eu praticava capoeira, atividade extra-curricular oferecida pela minha escola. Eu devia ter uns 13, 14 ou até mesmo 15 anos, idades que me parecem todas iguais hoje em dia. Ia a umas aulas, depois parava um tempo, ia de novo, depois parava durante um período mais longo ainda. Não me dedicava com afinco, mas foi naquela época que comecei a me interessar pelos movimentos da capoeira, pelo gingado, pela musicalidade. O treino da capoeira exige força, concentração, alongamento, agilidade e possibilita o desenvolvimento da capacidade de improvisação.
Tínhamos um professor excelente na época de escola, extremamente habilidoso e todo engajado e encantado pela capoeira. Negro e de origem pobre, ele seguia o Mestre Suassuna, fundador do Grupo Cordão de Ouro em São Paulo.
Num dia de apresentações das atividades extra-curriculares promovidas pela escola, todos os outros capoeiristas da cidade vieram se apresentar, assim como nós também, os alunos do meu professor. Era uma apresentaçãozinha sem importância, nada que se compare a um batizado. Eu, que já não consigo me soltar numa roda de capoeira, estava ainda mais inibida porque não tinha aquela calça branca característica, tinha apenas uma outra calça com motivos de capoeira, mas não era a mais apropriada. Quando tive uma oportunidade de perguntar para o meu professor se haveria problemas em me apresentar com aquela calça, ele, que estava a todo vapor devido aos preparativos, respondeu-me mais ou menos isso: “Pode ser, sim, ninguém repara em mulher mesmo”. Não me lembro exatamente das palavras que ele usou, mas foi isso que ele quis dizer. Na hora, retruquei algo como “ai, que horror!” rindo, ele riu, eu meio que desacreditando no que ele havia dito há pouco. Eu ri por estar embaraçada com a situação. Aí ele saiu rindo e eu fiquei lá parada, meio nervosa, meio chocada, pensando se aquilo tinha sido uma humilhação ou uma brincadeira (será?).

Duas capoeiristas esperando para entrar na roda. Foto de Marcelo Bittencourt/ND
Comecei a pensar em tantas coisas. Ele não quis dizer que ninguém repararia em mim especificamente – que, sendo bastante tímida numa roda, melhor que não olhassem mesmo -, ele se referiu às mulheres em geral, aquelas que praticam capoeira. Embora eu não me engajasse tanto, outras meninas e mulheres se esforçaram bastante para estar lá naquele momento e fazer uma boa apresentação; senti-me mal pelas mulheres que se envolveram e se envolvem com garra na capoeira e que, na opinião do meu professor, não concentrariam tantos olhares quanto os homens. Mesmo que as mulheres capoeiristas se esforçassem tanto quanto os homens capoeiristas, a capoeira, no corpo delas, seria menos interessante que no corpo deles, não seria tão espetacular, nem tão envolvente e inspiradora… não teria tanto brilho. O mesmo suor derramado e aquela força motriz que impulsionava os corpos delas a executar os movimentos valiam menos, então…
Dentre os pensamentos que crepitavam em minha cabeça, um deles me fez questionar todas as vezes que meu professor tinha falado que as meninas que treinavam todos os dias em São Paulo, na capital, eram super ágeis, “até mais rápidas que muito homem”; entendi que ele admirava uma e outra e não @s mulheres que faziam capoeira, era uma e outra mulher que valeria a pena olhar, e só valeria a pena porque a movimentação delas seria parecida com a movimentação masculina.
Caí em mim que, para muita gente mesmo, mulher valia menos que homem, que o machismo não se manifestava apenas em pessoas de pensamento retrógrado: fazia-se presente e atuante; acabara de se atualizar em minha frente! Não me apresentei naquele dia, porque me sentia, de fato, humilhada e com a sensação de estar no lugar errado. Uma voz, lá dentro de mim, sussurrava: “Seu lugar é no balletjazz, sapateado, mas não na capoeira”.
Eu sei, entretanto, que essa forma de ver a mulher em apresentações de capoeira é uma das formas de ver e não representa a maioria das opiniões sobre as capoeiristas*. Com o tempo, a sensação de ser desprezada foi passando e, hoje em dia, entendendo um pouquinho mais da nossa sociedade, consigo compreender o que levou meu professor a proferir tal frase. Não era para desmerecer as mulheres propositalmente, não, era – e ainda é – apenas um pensamento recorrente que não se cansa de repetir que mulher “é mais fraca” e “mais devagar” que homem, portanto, não há tanta graça em assistir mulheres fazendo capoeira ou qualquer outro esporte, com exceção de uma e outra. Meu professor era um sujeito bom.
Para muitos, ainda persiste o pensamento que se pergunta: “Pra quê assistir a uma corrida de mulheres sendo que, ao se comparar desempenhos femininos e masculinos em competições, a mulher mais rápida será mais lenta que o homem mais lento?”. Ou mesmo que “o homem mais rápido será sempre mais veloz que a mulher mais rápida”. Tal pensamento entoa a ladainha sobre mulheres e as atividades físicas e desmobiliza as pessoas a prestigiarem mulheres esportistas: “mulheres não fazem coisas tão espetaculares quanto os homens e nunca vão fazer. Então, para quê prestar atenção nelas?”.
Eu ainda acredito que a capoeira seja uma das manifestações artísticas, esportivas e filosóficas mais acessíveis que conheço e essa foi, infelizmente, a minha história de machismo na capoeira. Na maioria dos grupos, valoriza-se, sim, o gingado feminino e a destreza em usar as ferramentas que se tem para dar uma rasteira no adversário, por exemplo. Percebam que, aí, não se trata de força e nem de velocidade física, mas de uma mente rápida e reflexos afiados para se dar bem nesse “jogo de pergunta e resposta”. E, claro, a capoeira sugere uma certa malandragem para perceber o momento exato em que se pode tirar o equilíbrio do oponente.
A capoeira, através da maioria dos grupos, proporciona uma forma mais igualitária de olhar para o desempenho físico feminino, não tendo o ideal de “o mais forte” e “o mais rápido” como os indicadores comparativos, entre homens e mulheres, determinantes no sucesso da atividade física, ou seja, aqueles que seriam os mais dignos e merecedores de admiração nesses quesitos.
Porém, com o ocorrido, deixei de ser tão ingênua a ponto de achar que a capoeira estava livre de preconceitos de qualquer tipo, em particular o de gênero. Como já disse, esse foi o meu caso de machismo na capoeira. Para outras capoeiristas mais experientes, por exemplo, o machismo pode se manifestar de outras maneiras na capoeira. Discutimos sempre no Blogueiras Feministas que o machismo, assim como o racismo etc, estrutura a nossa sociedade e condiciona nossas mentes de forma explícita e implícita, mesmo entre aquel@s que, assim como eu, consideram-se mais receptiv@s a ultrapassar as fronteiras simbólicas existentes na nossa sociedade. E mesmo entre os capoeiristas, portanto.
Ah, pois hoje digo que a capoeira é, sim, o meu lugar e o de todas as mulheres interessadas em sua prática. E sei que, quando eu quiser voltar para esse universo de muito gingado, as portas estarão sempre abertas em qualquer lugar onde haja o contagiante som do berimbau.

Primeira Mestra de Capoeira

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Heroina afro-americana
Entrevista com Edna Lima, primeira Mestra de Capoeira
Edna Lima é uma reconhecida professora e “performer” de Capoeira. Edna possui um grau universitário em educação física e desenvolveu um programma nacional de ensino de Capoeira para escolas superiores no Brasil. É também professora associada no Departamento de Dança da Universidade de Long Island nos Estados Unidos. Edna Lima participou no filme “Rooftops”, sendo também apresentada em varias revistas, como por exemplo “Fitness Magazine”, “American Health”, “Vogue-Paris”, e “Cosmopolitan”. No verão de 2001 foi considerada pelo New York City Council como heroina da cultura afro-americana. Além do seu trabalho em Nova Iorque tambémé uma Capoeirista reconhecida no Brasil e na Europa sendo regularmente convidada para eventos de Capoeira no Mundo inteiro.

Edna, como foi o começo da sua carreira de Capoeirista?
Eu tinha 12 anos, e estava cursando a 7a serie no colègio em Guará, Brasília. Um dia veio um professor de Capoeira para apresentar as novas aulas de capoeira. Ele descreveu a Capoeira, como sendo uma luta marcial, genuinamente brasileira, muito dinâmica e atlética, que exigia muita flexibilidade. O meu sonho era ter abertura completa, quando ele mencionou flexibilidade, eu me vi naquela aula! Tentei convencer algumas amigas a entrarem comigo, tentativa em vão! Resolvi entrar assim mesmo. Só após a segunda aula percebi que não havia nenhuma menina na aula. Como havia pedido dinheiro à minha mãe para comprar uns livros -na verdade o dinheiro era para pagar a Capoeira- fiquei com receio de que ela não fosse gostar da idéia.

A sua compreensão e apoio foram os primeiros passos para a minha carreira, pois se ela não tivesse concordado com a idéia de deixar a sua filha caçula praticar uma luta como a capoeira, não tenho idéia do que teria sido o meu futuro?

Quando e como foi que você tomou a decisão de dedicar sua vida exclusivamente à Capoeira?
Quando eu estava no último ano do ginásio, todos me perguntavam quais seriam as minhas opções para o vestibular. Decidi fazer o que me desse mais condicões para continuar treinando os desportos que mais gostava, capoeira, karate, atletismo, natação, e estudar ao mesmo
tempo. A única opção era a Educação Física. Juntei o útil ao agradável. Foi um grande passo. Estou feliz com a escolha e com a minha profissão!

Como descreveria o significado que a Capoeira tem para você?
Filosofia de vida! Para mim a vida é como um jogo decapoeira, você tem que saber dar os golpes certos paracada situação. Na vida, você não pode tomar nenhuma decisão sem antes analisar todas as conseqüências. Na capoeira, ao tomar uma decisão de um ataque, tem que se ter em mente qual será a defesa ou o contra-ataque. Se não estiver preparado, não dê o primeiro passo. Tenho na vida vários planos, se um não funcionar, lança mão dos outros. Flexibilidade e agilidade de ação, inteligência de escolher a opção certa, são qualidades que se devem desenvolver e adquirir na vida e também na capoeira. Na capoeira deve-se respeitar o adversário,mesmo que seja um iniciante. Você pode ser pega de surpresa no jogo, pois na capoeira tudo acontece com
muita rapidez. A rapidez de ação e reação, aprendi eu a usar tanto na capoeira como também no meu dia-a-dia.

Como reagem os capoeiristas masculinos, em geral e no jogo, em relação a você ser uma Mestra?
Quando comecei, não havia meninas fazendo capoeira. Então os meninos e o professor nao faziam nenhuma distinção. Isso ajudou muito no meu crescimento como pessoa e, também, como capoeirista. Em 1981, quando tinha apenas 20 anos de idade, meu professor de capoeira, Mestre Tabosa, me graduou na corda vermelha (Mestra). Comecei a perceber então que os homens (capoeirista), não gostaram da idéia. Capoeirista de todos os lugares vinham para testar a nova e a única mulher com graduação de Mestra. Eles jogavam com bastante agressividade comigo como nunca haviam jogado antes. Se eu não estivesse em boa forma física e bem treinada, não teria suportado a pressão. Graças ao Mestre Tabosa, aos meus amigos capoeiristas da epoca, que sempre me incentivaram, e minha mãe, eu permaneci na Capoeira.

Como se desenvolveu o seu trabalho em Nova Iorque?
Assim que cheguei aos Estados Unidos, tive que trabalhar arduamente para conseguir o que tenho hoje: casa, alunos, capacidade de ajudar a minha mãe no Brasil, e um nome que me deixa muito orgulhosa como atleta (karate), capoeirsta, professora universitária, e instrutora de fitness (Capoeira Workout The Best kick Butt class in New York City - Melhor aulas de fitness da Cidade de Nove Iorque). Hoje, sou convidada para dar cursos na Europa, Ásia, Norte da América e também no Brasil. As pessoas me convidam pela qualidade de ensinamento que proporciono e por usar todos os aspectos da capoeira quando a pratico e quando a ensino! Tambem pelo meu conhecimento de biomecânica, de cinesiologia dos movimentos específicos da capoeira, treinamento desportivo, adquirido nos Cursos de graduação em Educacção Física e pos-Graduação em Ciência Desportiva. Agora, 21 anos depois, tenho que agradecer ao Mestre Camisa, meu mestre da Abada Capoeira, pelos seus ensinamentos técnicos e exemplo de dignidade e honestidade que ele sempre passou! E Mestre Camisa Roxa, com meu mentor, pela sua abilidade, elegância e tranquilidade no trato de negócios relacionados a capoeira.

Os alunos nos Estados Unidos se distinguem dos do Brasil?
Quando comecei a dar aulas aqui em Nova Iorque (1988a 1990), não havia muitos professores de Capoeira. Depois começou a concorrência e aqueles que se utilizavam da força bruta eram os mais procurados pelos brasileiros que aqui moravam. Os norte-americanos não se preocupam tanto com o machismo. Tenho em minhas aulas um percentual bem equilibrado entre homens e mulheres, diria que 55 por cento homens e 45 por cento mulheres.

Vê alguma diferença entre a estratégia do jogo de Capoeira de uma mulher e a do homem?
A estratégia é uma coisa bem específica de uma luta, a meu ver! Quem tem essa habilidade e conhecimento se sobressai em todos os aspectos da vida, não só no jogo de capoeira. A diferença física entre o homem e a mulher exige da mulher mais inteligência e destreza. Na verdade, não é a força o aspecto fundamental da capoeira mas sim á malícia, o molejo, a percepção, a sensibilidade, a criatividade, a flexibilidade, o equilíbrio e a inteligência!

As letras das músicas falam muitas vezes da vida do ponto de vista do homem. Já alguma vez mudou as letras de uma canção para que pudesse ser cantada do ponto de vista da mulher?
As que existem eu não as canto, como também não as memorizo! Eu nunca mudei a letra de música nenhuma. Quando eu não gosto, não canto. Exemplo: “Se essa mulher fosse minha tirava da roda já já, dava uma surra nela que ela gritava chega!” Horrível!!!

Como avaliaria o nível e o desenvolvimento da mulher na Capoeira?
Hoje em dia, com a crescente procura feminina pela capoeira muitas mulheres não vêem a capoeira como uma luta mas sim como uma atividade física. O que faz muita diferença! Na minha época não havia essa diferença. Se o adversário for mais rápido, mais ágil do que você, então você precisa de um jogo mais simples, mais inteligente, pricipalmente se não temos a mesma habilidade do oponente.

O que lhe satisfaz mais na Capoeira?
Saber que os negros escravos no Brasil que a desenvolveram resistiram às punições corporais que sofreram quando eram pegos lutando capoeira. Eles utilizavam a capoeira como arma de defesa e liberdade. Isso me inspirou e sempre que me vejo em situações de desrespeito, de falta de ética profissional, e de discriminação com relação à mulher, eu me lembro sempre dos escravos que lutaram para conquistar sua liberdade. Fico feliz por ver a capoeira sendo jogada no mundo todo, em quase todos os continentes por crianças, jovens, adultos, mulheres e homens inclusive por portadores de deficiência física. Isso é o que torna este desporte fantástico!

Informação: www.ednalima.com
Texto: Edna Lima foi entrevistada para Matices via Internet por Nicole Rösner e Ricarda Bruder.

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Projektgruppe Matices e.V., Melchiorstraße 3, 50670 Köln, Tel.: 0221-9727595
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO ( DOM, 15 DE JUNHO DE 2008 16:55 ) 

Vida

A Organização Mundial da Saúde estima que 20 milhões dos 46 milhões de abortos realizados por ano em todo mundo são feitos de forma clandestina e em condições precárias, resultando na morte de 80 mil mulheres por ano, vítima de infecções, hemorragias, danos no útero ou pelo efeito de agentes tóxicos usados para induzir o aborto.
Os grupos que se reivindicam pró-vida ameaçam na verdade a vida destas 20 milhões de mulheres, sobretudo as mais pobres que não têm outra alternativa senão realizar o aborto mesmo com a sua vida em risco. Além disso, são consideradas criminosas por não terem condições de criar um filho ou por simplesmente não poderem optar sobre o próprio corpo.
Os grupos pró-vida se recusam a ver que a proibição do aborto é uma questão de saúde pública. Quando a mulher pobre tem uma gravidez indesejada ela não dispõe de recursos financeiros para realizar um aborto - muito menos para manter um filho. Parte então para métodos absolutamente arriscados e precários, usando agulhas de tricô para perfurar o colo do útero, chás medicinais ou até mesmo "simpatias" que supostamente fariam ela ter um aborto induzido.



Mulher na Capoeira

Crônica de André Lacé, publicada originalmente no Jornal dos Sports (1996), e que selecionamos para nosso Jornal do Capoeira como homenagem especial à Mulher Capoeirista

Jornal do Capoeira -www.capoeira.jex.com.br
Edição 57 - de 22/Jan a 28/Jan de 2006

 Jornal dos Sports (1996) &
Jornal do Capoeira (fev/2006)

Nota do Editor:
            Embora alguns leitores tenham achado "inusitada" a idéia de escolher 2006 como o Ano Internacional da Mulher Capoeira, o fato é que a idéia pegou. Ou seja, várias contribuições e sugestões começam a chegar, até mesmo em forma deliteratura. No fundo, nada estranho, partindo do princípio que todo mestre de capoeira, por mais guerreiro que seja, é também um poeta. Algumas extraordinárias ladainhas comprovam esta afirmação. Quem sabe um belo dia abrimos espaços para esses mestres-poetas?
No momento, entretanto, o tema é mulher, não no sentido mais vulgar, como, infelizmente, boa parte da cantoria da capoeira procura "louvá-la", mas no sentido mais nobre possível, inclusive de guerreira também, de parceira de luta, na vida e nas rodas.
Muitas vezes até na liderança dos acontecimentos.  Já existe quem esteja murmurando por aí, só para dar um exemplo, que os Capoeiras só lograrão conseguir uma Organização com a verdadeira cara da CAPOEIRA,  quando a comandante for mulher. Fora da capoeira, os bons exemplos vão surgindo, o mais recente, todos sabem, é a Grande Roda Presidencial do Chile!
Voltando ao tema básico - Mulher na Capoeira - vamos neste número republicar a crônica escrita, em 1996, no Jornal dos Sports, por André Luiz Lacé Lopes.  Crônica que resgata, não apenas um interessante registro histórico no Rio de Janeiro (mulher, campeã de tênis, jogando capoeira), como também resgata pequena parte da gloriosa carreira de mestre de Artur Emídio de Oliveira. Mestre, aliás, que não era nem Angola nem Regional, era pura e simplesmente um grande mestre de capoeira.
Vamos a crônica de André Lacé.

Miltinho Astronauta





A   MULHER   NA   CAPOEIRA
André Lacé
                     
          A História do Brasil Colonial registra, de modo pouco preciso,  alguns  casos de mulheres jogando capoeira. Mas é neste século, a partir de algumas décadas atrás, que se começa a registrar, mais nitidamente, a presença da mulher. No começo, timidamente, abrilhantando a parte cantada, pouco a pouco, entretanto, a presença da mulher foi crescendo,  ocupando espaços cada vez maiores.   Da presença da mulher no canto, o disco de Mestre Bimba, gravado no início dos anos 50, é bom exemplo.
         Mas, como exemplo pioneiro de mulher jogando capoeira, sem dúvida alguma, podemos citar o trabalho do Mestre Artur Emídio de Oliveira que, também,  por volta dos anos 50, entre outras moças, teve o prazer e a honra de ensinar a nossa tenista, campeã brasileira, Lucy Maia.
        O quadro atual, entretanto, é que está justificando o presente artigo. Pois, é muito possível, que a capoeira, atualmente, seja o esporte que reúna maior número de participantes do sexo feminino. E, como da quantidade, sempre tende a sair alguma qualidade, as rodas de capoeira já começam a contar com verdadeiras mestras. Constatação que serve para o Rio, Bahia, São Paulo, Minas, enfim, para todo o Brasil e para o resto do mundo, como veremos mais adiante.
            O tema começou a chamar minha atenção durante a festa de comemoração promovida pelo Professor Augusto Lopes, mais conhecido como Mestre Baiano Anzol.  Ao final da festa, comentando o desempenho da grande roda de capoeira (ecumênica; numa atitude exemplar, Anzol tratou de convidar "gregos, troianos e baianos"; o que, aliás, não deu muito certo, mas isto é outra história), percebi, para minha surpresa e a de todos, que meus dois destaques eram para duas capoeiristas: Gisele (Gigi), responsável pela "volta do mundo" mais pura e mais completa, onde, entre outros movimentos, deu uma rasteira absolutamente antológica; e Mônica (Cegonha), que, embora lamentando muito, foi obrigada a mostrar o que acontece quando uma parceira de "volta do mundo" insiste, obstinadamente, em aplicar um golpe mais da família do judô do que da família da capoeira. Aliás, este foi meu único reparo e meu alerta para esta legião de mulheres capoeiristas que começa a enriquecer as rodas de capoeira: cuidado com o "aburguesamento" da capoeira.
          Mas, o saldo da festa foi extremamente positivo, valendo registrar, muito especialmente, o momento, criado pelo Mestre Anzol, quando se formou uma roda só de mulheres. Saí de lá convencido que há potencial para fazer muito mais. Por que, por exemplo, não entregar, também, o comando da Roda (parte rítmica e cantada) às próprias mulheres?
          Perseguindo o "mote", tratei de conversar com uma capoeirista do grupo I.U.N.A. (Mestre Rui Henrique) que, além de lembrar vários nomes - Rosângela Rufatto, Sueli Cota, Índia, Babuína, Frances Lady  (Borboleta), Rita de Cássia Santos (contramestre China), Sueli (Suri-Sam), "Dilá" etc - concordou, em princípio, com a idéia de se estimular reuniões periódicas apenas de mulheres capoeiristas. Reuniões onde a Capoeira seria refletida sob o ponto de vista feminino. Por que não, por exemplo, as capoeiristas não começam a compor suas próprias ladainhas, com luz própria, filosofando sobre a sua própria presença no mundo e na volta do mundo (o resultado, certamente, mereceria ser perpetuado em disco, com a presença, fundamental, da encantadora voz da capoeirista Ciça, ora em Nova York; e - quem sabe? - com uma participação especial da fascinante cantora Elba Ramalho, recém-batizada numa Roda de Capoeira)?   E quanto aos  aspectos técnicos e táticos? E quanto à História da Capoeira e dos seus fundamentos? E quanto à Administração da Capoeira (processo de institucionalização!), tão negligenciado até agora?  E quanto à fisiologia e à anatomia? E quanto à ludicidade e agonística? E quanto à ética?
           E quanto à "terceira onda" (casal Toffler) da capoeira, sua internacionalização, as mestras de capoeira no exterior?   O consulado americano, por exemplo, com toda razão, nega o visto permanente para todo e qualquer pedido relacionado com o ensino da capoeira. Com razão, pois, afinal, assim como aqui no Brasil, existe lá fora, um bom número de "mestres" pouco expressivos. Mas, claro, existem, algumas extraordinárias exceções. Uma delas, sem dúvida, é o nosso querido doctor of humane letters  Mestre João Grande. 
            Ou seja, assunto é que não falta. Que venha, pois, a primeira reunião de mulheres capoeiristas.
 RIO, 04 de fevereiro de l996.



ENCONTRO FEMININO DE CAPOEIRA
 ORGANIZAÇÃO: ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA AVE BRANCA E  CENTRO CULTURAL ARTE LUANDA





MULHER NA CAPOEIRA











FOTOS de mulheres na capoeira de vários grupos.







                                          
                                       


                                          
                                       
                                           
                                       
                                         
                                       
                                         

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